quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Quase morri, se não fosse Deus eu teria ido”, diz surfista que se livrou de Tsunami. Câmera registrou momentos que antecedem a tragédia. Assista

Imagens flagram o momento em que o mar retraiu antes da onda gigante. Julio registra tudo e narra os momentos que antecedem a tragédia. Guilherme conta como salvou duas crianças.

Uma manhã perfeita para surfar. De férias, os brasileiros Júlio e Guilherme se preparam para pegar ondas em Samoa, uma ilha paradisíaca no Oceano Pacífico.

Julio está no barco filmando os amigos surfistas. De repente, o mar começa a recuar. Todos entendem imediatamente o que está por vir. Julio registra tudo e narra os momentos que antecedem a tragédia.

“Aqui ficou seco! O recife saiu para fora. Nós estávamos pegando onda lá, não tem mais onda, acabou”, relata Julio. Os arrecifes que estavam a dois metros de profundidade surgem no mar raso, mas a tranquilidade é só aparente.

O grupo se divide. Alguns surfistas, entre eles Guilherme, decidem nadar rapidamente para a praia, para fugir da grande onda. Outros fazem o caminho inverso: vão em direção ao mar. Assim, fogem da arrebentação.

Uma onda se aproxima e a câmera é desligada. A imagem seguinte é de destruição. “Detonou tudo! Olha só onde está o barco. É tsunami. Não tem mais nada, até os carros que estavam alugados, acabou tudo! Acabou. Não tem mais nem o restaurante. Isto aqui é o telhado do nosso restaurante. Meu Deus do céu! Acabou! Este tsunami arrancou tudo! E nós estávamos surfando, imagina. Meu Deus!”, continua Julio.



Julio, que ficou no barco, começa a procurar por Guilherme. São três horas de espera até o reencontro. “Quando a gente foi para a praia com o barco, cada vez que eu chegava mais perto, eu começava a realizar o que realmente tinha acontecido. Quantas pessoas podiam ter morrido ali, eu me apavorei. A única coisa que eu pensava, eu pensava no meu amigo Guilherme”, diz Julio.

Guilherme foi arrastado pela onda e sofreu ferimentos leves. O surfista reencontrou o amigo no hotel onde eles estavam. “Não sobrou nada. Sumiu tudo, destruição total. A gente estava no quarto de cima, não inundou nada. Mas embaixo, como vocês podem ver, olha só o que aconteceu. Caiu tudo. Tem uma pessoa morta, dentro daquela cabaninha. Caiu a casa na cabeça, o telhado da casa”, relata o surfista.

Cerca de 170 pessoas morreram vítimas do tsunami em Samoa. Nesta semana, catástrofes naturais foram impiedosas também em países da Ásia.

Nas Filipinas, dois tufões mataram 350 pessoas e deixaram cerca de 500 mil desabrigadas. Na Indonésia, pelo menos 4 mil pessoas podem estar soterradas por terremotos que arrasaram o país. Pelo menos 688 mortes foram confirmadas.

Quem sobrevive às tragédias tem dificuldade para escapar do caos. Os dois surfistas brasileiros que estavam em Samoa só conseguiram sair da ilha três dias depois. No carro, a caminho do aeroporto, Guilherme desabafa. “Nossa, estou sem palavras, sem palavras! Quase morri, se não fosse Deus eu teria ido”.

No aeroporto em Sydney, na Austrália, onde moram, os surfistas brasileiros são recebidos pela imprensa e pelos amigos. A casa está cheia. Todos querem saber o que aconteceu. “Quase morri!”, diz Julio. “Antes estava tudo normal, depois ficou tudo seco, secou tudo e veio a onda grande. Veio a onda, só grudei na minha prancha e fui”, diz Guilherme.

Pela internet, eles falam com a família no Brasil. É a primeira vez, depois do tsunami, que Julio vê a mulher Catarina. Os três iam passar as férias juntos, em Samoa, mas Catarina decidiu visitar os pais no Brasil.

“Me dá um certo pânico, porque eu não sei o que faria, eu não sei se eu estaria lá no barco com meu filho. Nestas horas, tem que ter muito sangue frio para decidir o que fazer”, diz Catarina.

A família de Guilherme mora em um prédio em Florianópolis. A mãe dele estava em casa quando recebeu as primeiras notícias do tsunami. Foram seis horas de uma espera angustiante até que o filho conseguiu ligar. Ao responder quais foram as primeiras palavras de Guilherme, Sônia responde: “Eu estou vivo. E cai a ligação!”.

Pelo computador, Guilherme conta para a mãe como salvou duas crianças. “Elas estavam numa casa, estavam no chão chorando. As velhinhas falaram para mim: leva elas, leva elas porque eu vou morrer e você leva elas para mim”, diz Guilherme.

A mãe pergunta como Guilherme levou as crianças e ele responde: “levei no colo, aqui no braço, uma em cada braço. Daí, eu soltei a prancha. A mãe delas estava perdida, elas estavam chorando”.

Depois do reencontro virtual, Sônia e Catarina se emocionam. “Quem é mãe sabe a emoção que é saber que o filho está vivo, que passou por toda esta atribulação e conseguiu se salvar, e salvar ainda estas duas crianças que ele tanto fala”, diz Sônia Costa.

“Foi muita emoção, até você ver a pessoa, eu não imaginei que fosse tão emocionante, foi demais. É difícil ver dois homens fortes chorando como duas crianças”, diz a contadora Catarina Gruendling.

Ontem, Sol fez dois anos. A pequena família teve muitos motivos para comemorar.

Fonte: G1

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